Nesse artigo vamos trazer por primeira vez uma crônica. Sim. Vamos trazer a palavra de um apostador espanhol profissional que ainda hoje, vê a profissão carregar sua cruz. Hoje trazemos para você uma cronica sobre apostas online. Apesar da cosa nostra ser das organizações mais antigas do globo, ainda os “bons costumes” esgrimidos por Eurico Dutra parecem ecoar em pleno século XXI. Apesar de esses costumes responderem para outras horas, há certa hipocrisia misturada com ignorância que ainda persiste sobre as apostas.
Mesmo assim, as apostas online no Brasil vêm sendo discutidas largamente com o objetivo de regular um mercado que além de relevante, equivale a um encanamento furando por onde filtram-se milhões do nosso bolso. Bem a causa de lavado de ativos, bem por conta de fontes de trabalho sem aposentadorias nem rendas. De fato, a crônica que vamos compartilhar foi publicada pelo jornal espanhol “El Mundo” no seu website relatando justamente o caso de um apostador profissional que busca hierarquizar o seu oficio. Assim, “Angel” –o nome fantasia que preserva o seu anonimato- concorda em dar entrevista.
As suas ferramentas de trabalho são um tablete e um celular. A questão é que além de se dedicar as apostas online ele é um migrante sem papéis, fato que complica mais ainda a sua situação. Essa crônica foi publicada no dia 24 de maio de 2016. Seguiremos seu rastro para fornecer mais informações a respeito pois já se passaram mais de três anos de lá até aqui. Quem sabe, talvez a situação de “Angel” hoje seja outra.
A crônica sobre apostas online em um país estrangeiro
O relato do jornalista que escreveu a crônica, Javier De La Cal, inicia descrevendo o cenário com o qual ele se encontrou no dia da entrevista com o anjo. Uma crônica sobre apostas online estava prestes a começar. Segundo Javier, o celular de “Angel” não para de vibrar. Tipsters asiáticos lhe enviam constantemente prognósticos de possíveis apostas. Nessa mesma manhã, esses tipsters de apostas online lhe renderam 1500 euros ao apostar em times de futebol da segunda divisão filipina.
Angel manifesta ao jornalista novamente a sua preocupação por não ser reconhecido em fotos. “Sou uma pessoa ilegal e só concedo essa entrevista porque quero que o meu oficio seja regularizado e (assim) poder pagar impostos no meu país”. Angel é um engenheiro químico de 34 anos que mora em Madrid e nesse momento esperando o primeiro filho (hoje teria seus 37, mas como dito, confirmaremos essas informações mais adiante). A mulher de Angel fez uma pergunta difícil de responder: “Quando ele cresça e te perguntar o que você faz, o que você vai lhe dizer? ”.
De fato, Angel é um apostador profissional dedicado as apostas esportivas online. “Para as pessoas com as quais guardo certa confiança digo que vendo coisas pela internet ou que sou assessor. Para a minha mãe eu disse a verdade pois ela estava me vendo viajar ao redor do mundo, levando um alto nível de vida e qualquer coisa podia ser pensada. Quero deixar em claro que não faço nada ilegal e gosto do meu trabalho”.
A equipe do Anjo das apostas online
O celular de Angel volta a vibrar e dessa vez não para. É que dessa vez, são seus colegas de trabalho. Angel pertence a uma equipe de 18 apostadores que trabalham espalhados por toda a península espanhola. Eles conversam sobre as alíquotas nos times das ligas russas e romenas. Todos eles trabalham desde casa. Todos eles são especialistas em uma liga de futebol; em jogadores de tênis da ATP ou em outros esportes como o hockey. Angel tem um pequeno escritório num “piso” de Madrid com duas computadores e um tablete. Agora é que a crônica sobre apostas online começava aos poucos a flertar com o repórter. Aos poucos.
O anjo e Raios X
“Há uns três milhões de pessoas dadas de alta nas casas de apostas e somente um 10% ganha dinheiro. Nós formamos parte do 5% que ganha, mas também pode se dedicar profissionalmente”, conta. Ao mesmo tempo, mostra para Javier e a sua equipe quais as margens e porcentagens vivas da final da Copa del Rey entre o Barça e o Sevilla. Essa informação vem checkada desde uma casa de apostas na Guiana Francesa. Angel e os seus colegas já foram expulsados de todas as casas de apostas espanholas. “Temos denunciado várias vezes esse fato perante a Dirección General del Juego embora sem resultado algum. Nós fomos banidos porque ganhamos. No entanto, aqueles que perdem são aqueles que ganham bônus para que continuem a jogar. E justamente é isso o que fomenta a ludopatia”.
A ilegalidade da profissão das apostas online na Espanha
Segundo o autor da crônica, o jornalista Javier De La Cal, Ángel e o seu grupo ganham mais de 100.000 euros anuais, cada um por conta das apostas online. Agora bem, até aqui as palavras do Anjo parecem com as de um roteiro de filme, mas. É, tem um, “mas”. Quando devem fazer a declaração de renda, a profissão não está reconhecida. Consequentemente, as suas declarações são preenchidas de acordo com aquelas para os casos de ganhos de loteria, pagando um 49% de IRPF.
“São uma barbaridade de impostos sem receber prestação nenhuma em troca –nem seguridade social nem um listado sequer-. E agora com a impossibilidade de apostar aqui somos obrigados a isso fora do pais, mas nesse caso não estamos obrigados a declarar esse lucro. Eu quero tributar no meu pais como qualquer trabalhador honrado”, confessa. “A solução seria virar autônomos pois nosso “pagador” são as casas de apostas.
Já no caso de apostas estritamente online e dentro de território espanhol, deve contratar intermediários. Assim, amigos ou familiares abrem uma conta de banco no seu nome e os seus dados, mas ela é gerenciada pelo Anjo. “Ofereço sempre para eles uns 2.000 euros por não fazer nada. Caso eu ganhar, eles cobram o dinheiro, pagam os impostos pertinentes e eu recebo a mina parte “em negro”. Não quero fazer isso, mas não tenho mais opções, alega.
Concluindo
Isto posto, parece uma vida de um dos personagens retratados em filmes de Hollywood e, é verdade também que certamente, o “Anjo” não é a regra, mas como ele mesmo diz, faz parte da porcentagem englobada na exceção. Mesmo assim, podemos ver que mesmo em um país onde as apostas online estão regularizadas, também lidam com questões, que segundo Magalhães, da Estoril Sol Digital, fazem toda a diferença. Ele citou em maio no Planalto o nefasto caso das regulações lusitanas que dentre outros fatores, o desconhecimento foi o calcanhar de Aquiles.
Contudo, Magalhães também disse que o Brasil já entraria no mercado com um posicionamento “pole position” devido a sua atual participação nos mercados lusitanos. Ressaltou também que o nosso pais já está em uma posição quase óptima dados os assessoramentos recebidos e as projeções do comportamento dos apostadores brasileiros.
Enquanto as regulações sejam oficiais, continuaremos a lhe informar sobre a evolução das legislações assim como informações relacionadas ao destino do Anjo. Compartilhe conosco as suas opiniões, estaremos gratos em recebe-las.